Máquinas e horas

Por Fernando Calmon

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Aparentemente relógios e automóveis não mostram ligação direta. Mas só aparentemente. A empresa relojoeira suíça Quinting destaca as semelhanças: mecanismos sofisticados, proezas tecnológicas, inovação, estilo, atenção aos detalhes, procura constante de desempenho e perfeição. Isso tudo, acompanhado de preços que começam no básico e atingem os píncaros.

Nesse último aspecto ambos os produtos se equivalem. Um automóvel no Brasil parte de pouco mais de R$ 20.000,00 e pode ir além dos R$ 2 milhões. Relógio básico custa US$ 10, enquanto um de grande sofisticação chega a US$ 300 mil no exterior, como o do fabricante Cabestan, de Luxemburgo, mesmo sem usar caixas em metais preciosos.

Engenheiro automobilístico, René Quinting fundou há 10 anos a empresa que leva o seu nome. Antes disso, criou o primeiro e único relógio totalmente transparente do mundo, em 1993. Dele veio a ideia de levar aos relógios as tecnologias dos automóveis. Após estudar as características dos pneus de competição, ele as adaptou aos discos de safira, colocando coroas dentadas de borracha para aumentar a precisão e durabilidade das máquinas de marcar o tempo.

Quinting Relógio com embreagem

Outro notável avanço desse alemão, de nome e sobrenome francês, ocorreu quando decidiu utilizar o mesmo princípio secular das embreagens dos veículos no cronógrafo Ghost (em inglês, fantasma) e no relógio The Advance, ambos transparentes. A embreagem serve para desengatar as rodas responsáveis por marcar segundos, minutos e horas, em caso de queda ou fortes acelerações e desacelerações. Reengatando a embreagem, tudo volta a funcionar como se nada houvesse acontecido.

Quinting escolheu o Salão do Automóvel de Genebra, em março último, para difundir seus produtos, cujos preços atingem em torno de US$ 20 mil, mas podem custar bem mais. A empresa tem acordo de co-brand com a Koenigsegg, fabricante do supercarro esporte sueco, que comercializa os modelos cujos ponteiros parecem flutuar no ar dentro da caixa Cabestan Ferraritransparente.

No mesmo caminho, porém apelando para movimentos puramente mecânicos, a Cabestan desenvolveu um super-relógio batizado de Scuderia Ferrari One em acordo comercial com a fábrica italiana. O mostrador, bem diferente dos tradicionais indicadores de hora, deixa visível todo o mecanismo e destaca o princípio das manivelas. Estas são essenciais na árvore (eixo em rotação) principal dos motores, que entrega a potência responsável pela movimentação, aceleração e velocidade dos carros. Seu nome popular é virabrequim.

A leitura feita na vertical inspira-se nos dígitos que compõem o hodômetro mecânico no quadro de instrumentos dos veículos. O mecanismo de altíssima precisão utiliza a técnica de carrilhões e correntes. A fim de manter desempenho próximo aos relógios modernos a quartzo, dinheiro foi questão secundária.

O preço alcança estratosféricos US$ 300 mil por unidade de uma produção restrita, não revelada. Para quem deseja exclusividade e gosta muito de relógios e carros, a escolha mais do que se justifica.

Foto_F._Calmon_19_m_dia_thumb_34_Sobre o Autor:
Fernando Calmon (fernando@calmon.jor.br) é jornalista especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É publicada no Novidades Automotivas e em uma rede nacional de 80 jornais, sites e revistas. É, ainda, correspondente para a América do Sul do site just-auto (Inglaterra).

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