Um dia com o futuro nipônico
Na quente manhã e tarde desta quinta-feira (16), a Nissan organizou um evento para a Imprensa para o lançamento da versão carioca do Nissan Inova Show, evento que passará por 30 cidades brasileiras exibindo as novidades da marca, e de quebra divulga os modelos Leaf e March. O Nissan Inova Show estará aberto ao público neste final de semana, no Via Parque Shopping, Barra da Tijuca.
O primeiro test-drive foi no Leaf, claro, devido à grande expectativa dos jornalistas – e blogueiros – presentes. O modelo não possui data para ser lançado no Brasil. O interesse existe, mas depende de um empurrãozinho do governo. Isso deve-se ao fato do Leaf ser produzido apenas no Japão, o que encareceria bastante seu preço no Brasil.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o Governo disponibiliza um incentivo de US$ 7.500 aos compradores de veículos elétricos e híbridos. No Brasil, um incentivo chegou a ser discutido no ano passado, ainda no Governo Lula, mas o projeto foi cancelado e aguarda o sinal verde para ser posto em prática. Isso pode acontecer em pouco ou bastante tempo, ma depende do quanto o Brasil é capaz de acompanhar as inovações mundiais. Com sorte, é capaz dos carros elétricos voltarem a ser motivo de debate em breve.
O principal receio de muitos ao comprar um carro elétrico é a tecnologia por trás do sistema que alimenta o motor do veículo. No caso do Leaf, o modelo é 100% elétrico, logo, não usa combustíveis fósseis para andar. O modelo tem autonomia de 160 quilômetros por carga, que pode ser feita de três formas.
A primeira pode ser feita em qualquer residência, em uma tomada doméstica de 110V, e demora cerca de 20 horas para atingir 100%. A segunda, em uma tomada de 220V, demora 8 horas. Já a terceira, chamada de “recarga rápida” pela Nissan, pode ser feita em determinados postos criados pela montadora. Em 30 minutos, você abastece 80% da capacidade do modelo.
Além de ser elétrico, o Leaf também foi feito para acabar com outras preocupações em relação ao meio-ambiente. 80% de seus materiais, principalmente os feitos de plástico, são recicláveis. Inteligentes sistemas foram usados no modelo, especialmente a central multimídia e o computador de bordo, onde um GPS exibe os pontos de abastecimento e faz médias geográficas. Você marca o seu destino no mapa e o sistema lhe diz até onde você poderá dirigir com energia suficiente.
Além disso, o sistema aponta também dicas para a economia do consumo. Ele as apresentam dizendo o quanto você economizará se optar por seguí-las. Em uma das apresentações, a tela exibiu um aviso que dizia que caso o condutor desligasse o ar-condicionado, ele poderia rodar mais 10 milhas. Há também a possibilidade de programá-lo, fazendo com que ele ligue 15 minutos antes de você entrar no carro, ajudando assim a economizar energia.
Apesar de parecer complicado, o carro elétrico é bem simples, principalmente com as inovações tecnológicas mundiais. Um belo exemplo é a sincronização que você pode estabelecer entre o Leaf e seu iPhone, ou celular similar. Através do sistema, você recebe avisos em seu celular quando seu carro está sendo carregado, seja quando a recarga foi completa, ou quando a energia de sua casa caiu. Há também a possibilidade de programar a recarga, que pode parar ou começar em determinado horário, medida criada devido ao fato do consumo de energia ser mais barato em determinados horários nos EUA e na Europa.
Pessoalmente, o Leaf chama bastante atenção. Já tinha o visto no Salão de São Paulo, mas hoje pude avaliá-lo com mais calma. Por fora, ele chama muito mais atenção à luz do Sol do que com as centenas de luminárias do Anhembi, e principalmente no horroroso stand da marca. Sua cor azul reforça o design do carro. O carro foi desenhado para que sua aerodinâmica pudesse ajudar ao máximo na economia de combustível, por isso os faróis longos, que, em contato com o evento, geram pouco arrasto.
Ao andar em um Leaf, há uma surpresa esperada: o carro não faz barulho, exceto pelo pneu, é claro. Tal fato gera uma sensação de “paz” à bordo muito rara nos veículos disponíveis no mercado. Os modelos possuem ar-condicionado, 7 airbags, freios ABS e ESP, que ajudaram o Leaf a atingir cinco estrelas no crash-test da EuroNCAP (nota máxima), além do piloto automático. No acabamento, não há muito luxo, mas o carro é bem construído. Algo normal e compreensível a julgar pela sua faixa de preço: custa US$ 25.280 nos EUA. Seria a melhor compra se custasse R$ 40 mil no Brasil.
Outra atração foi o hatch March, chamado pela Nissan de “1º popular japonês do Brasil”. O modelo irá estrear no segmento dos populares em outubro, um ano depois de ter sido exposto no Salão do Automóvel de São Paulo. A Nissan faz mistério quanto ao pacote de equipamentos e preços. Tudo o que se sabe é que o modelo será equipado com motores 1.0 de 16 válvulas e um 1.6 de 8V, ambos também utilizados pela Renault.
As unidades testadas eram 1.6, equipadas com airbag duplo, ar-condicionado e vidros elétricos nas quatro portas, além de rádio integrado ao painel e direção elétrica. O March, por fora, é bonito e chama atenção. A traseira foi bastante discutida entre os jornalistas: talvez seja o calcanhar de aquiles do March, apesar de isso não chegar a atrapalhar na compra de um carro, na maioria das vezes. Eu achei bonita, embora esta pudesse ser mais impactante.
O interior não é da versão mais completa vendida no exterior: os comandos na parte circular do painel não são digitais e as maçanetas internas não são cromadas. Em todo caso, o March é bem acabado. Seus materiais são de boa qualidade e o acabamento não apresentou rebarbas. O motor, de 111 cavalos e flex, mostrou-se bem elástico em uma avaliação na Barra da Tijuca, em diversas condições de terreno. A direção elétrica também ajudou.
O espaço na frente é ótimo, tanto para o motorista quanto para o passageiro. Atrás, os passageiros se apertam. Nada escandaloso, já que a maioria dos populares não possuem tanto espaço. O March é mais alto que o Uno, e seu teto curvado ajuda pessoas com mais de 1,70 m a se acomodarem com facilidade. O banco traseiro é baixo e causa um pouco de estranheza, a princípio. Na frente, os comandos estão sempre à mão e os difusores de ar espalham bem o ar-condicionado por toda a cabine.
O carro tem tudo para fazer sucesso, mas isso só dependerá do preço. Especula-se que o Nissan March custará cerca de R$ 26 mil já com airbags e direção elétrica de série. A Nissan tentaria enfrentar os chineses, que estão vendendo bastante devido ao belo custo x benefício de seus modelos. Com isso, o consumidor ganha dos dois lados: adquire um carro mais confiável no mercado em relação aos chineses e ainda pagaria pouco por isso. Mas, para vender bem, a Nissan precisa agir conforme a música. Se o 1.0 custar mais de 30 mil com poucos equipamentos, ela talvez não tenha tantas coisas a comemorar.
Apesar disso, depois de algumas voltas nos veículos que prometem ser os futuro nipônico, temos que torcer para que o Governo crie, enfim, um incentivo aos modelos elétricos para que o Leaf se torne realidade no Brasil (lembre-se que a Renault lançará uma linha de carros elétricos no Brasil em 2012) para quebrar os antigos e errôneos conceitos do carro elétrico e para que o March, um popular bem acabado e possívelmente com preço justo, possa fazer jus a sua proposta e venda bastante. Afinal, quem ganha sempre somos nós. E o planeta, no caso do Leaf.