Chevrolet: o retrocesso nacional

Por Pedro Ivo Faro
Novo Chevrolet Classic 1.0 VHC Flexpower 2006. X06CH_CL003BR

Experimente perguntar a qualquer pessoa que entenda minimamente de carros no Brasil sobre a montadora mais estagnada no país. A resposta será Chevrolet, sem dúvida.

Antes que os amigos do blog pensem, eu não implico com a marca. Muito pelo contrário, sou opaleiro de carteirinha, e admiro muito a GM nacional, principalmente a marca de sonho que ela foi para a maioria dos brasileiros entre os anos 70 e 90. Mas que eles estão defasados, isso é um fato. E incontestável.

A rigor, não há um lançamento de verdade desde 2005, com o Vectra atual (ou como muitos chamam, “Vectra C”). E aquilo que a GM colocou nos últimos anos como “lançamentos”, nada mais são que adaptações em cima de plataformas (bastante) antigas: o Agile e a nova Montana, que usam a plataforma do primeiro Corsa, lançado em 1994... Aliás, a Montana chega a soar como um retrocesso ainda maior, uma vez que sua antecessora usava uma plataforma mais moderna, ao passo de que a atual usa uma mais antiga (a mesma da finada Pickup Corsa), que, segundo a GM “sofreu melhorias”.

Aliás, falando na plataforma do primeiro Corsa, a GM nacional parece ter paixão por ela. Não só Agile e Montana, como Classic, Celta e Prisma compartilham a mesma base. E aí fica a pergunta: se há uma plataforma de um Corsa mais novo (ou seja, de 2002, que mesmo assim já tá defasada por demais), por que não investir em cima dela? Pode haver várias respostas, mas é fato que o Corsa mais novo vai morrer, e as variações em cima do antigo continuam vivas...
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Fora eles, temos as jurássicas S10 e Blazer. A S10 vende até bem, muito mais pela imagem agregada a ela e consolidada ao longo do tempo que pelas novidades, coisa que todas as concorrentes têm muito mais a oferecer. Já a Blazer tem tido mais expressividade para vendas diretas a órgãos públicos que ao público comum, ainda mais a chegada do Captiva.
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Na linha Astra a coisa a rigor parou em 1998, com uma remodelação em 2002. Entretanto, no caso dele, a defasagem é um pouco esquecida por alguns consumidores, dado o gordo pacote de equipamentos que a marca coloca nele a preço de banana. E a minivan derivada dele, vulgo Zafira, segue com pouquíssimas alterações e vendas idem, num segmento onde a concorrência ou não tem expressividade, ou é altamente sofisticada (e importada...). E o “Astra Sedan”, que aqui temos como Vectra, também já deixou de ser novidade e perdeu fôlego rápido, pois enfrentou (fortíssimos) rivais logo nos seus primeiros anos de vida, sem contar com o refinamento mecânico ou a maior tecnologia embarcada que um Honda Civic EXS ou C4 Pallas Exclusive tinham, por exemplo. Mesmo mal que sua versão hatch, batizada de Vectra GT, que nada mais é que o Astra europeu. Na época, em testes, a Quatro Rodas deixou claro que o carro não era ruim, apenas que a concorrência era melhor...
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E não só necessariamente dos projetos e plataformas que se trata o retrocesso em que a GM se encontra. A maioria dos motores da linha deriva do jurássico Família II que era usado no Monza. Por um lado é bom, pois todo mecânico conhece e tem determinada robustez, por outro são motores rústicos, que deixam a desejar no consumo e na tecnologia. Basta ver que os orientais e franceses se valem de motores mais modernos, que aliam bons números de performance sem penalizar no consumo. É verdade que a engenharia daqui sabe trabalhar bem quando quer, vide o 1.4 EconoFlex. Mas essa mesma engenharia precisava trabalhar também nos motores grandes, e não só nos pequenos.
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Lógico que tudo isso que falei se encaixa nos GM nacionais, já que nos importados a história é outra. Captiva, Malibu, Omega e Camaro são excelentes cartões de visita. O utilitário esportivo, se não é um estouro, tá no mesmo nível dos adversários. O Malibu não fica muito aquém de Fusion, Jetta ou Sonata (com exceção de não possuir uma versão 6 cilindros), ao passo de que o Omega é uma aposta mais esportiva (e sempre com bom custo-benefício) em sedãs médios-grandes e o Camaro é um esportivo bastante acessível para a potência e a imponência que ele possui.

Saídas para tornar a GM novamente a marca de sonho de décadas passadas os executivos têm (ou vai dizer que Monza, Omega, Opala e Vectra B eram carros ruins?). Um bom primeiro passo seria “realinhar” nossos carros com os da Opel. Sempre pegamos projetos da subsidiária alemã para o Brasil (com exceção de Malibu e Camaro, todos os carros da GM no Brasil têm raízes ou alguma proximidade com os Opel), e agora não haveria de ser diferente. Com tantos carros bons, como a nova geração de Corsa, Zafira, Astra, o Insiginia (sucessor do Vectra por lá) e o Agila, há muitas opções para a GM voltar a ser vanguardista. Outro bom passo seria parar de pensar no mais rentável para a montadora, e passar a pensar nos consumidores. Como bem estão dizendo em fóruns pela internet, a Hyundai e a Kia vendem seus carros com ágio, pois além de serem modernos e oferecerem vários itens de série e tantos outros como opcionais, o público compra, e compra avidamente.

Portanto, lançar novidades (novidades mesmo, não gambiarras como o Agile e a Montana são), principalmente se vierem da Opel, são uma boa. Vem por aí o Cruze, que não é da Opel, mas que já representa uma real novidade frente às gambiarras atuais. O Volt ficou em exibição no Brasil e cativou bastante gente, como um sonho real de carro elétrico.

Opções a GM daqui tem. É só saber aproveitar que ela volta ao posto que para muitos nunca deveria ter saído: de marca de sonho do brasileiro.

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