O que o consumidor brasileiro finge que não vê

Até que ponto o consumidor vai permitir ser enganado?

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Por Douglas Lemos*

Existem diversas entidades que são responsáveis por avaliar a segurança passiva dos veículos automotores, que visa diminuir os riscos aos passageiros quando um acidente é iminente. Entre elas, estão a Euro NCAP – European New Car Assessment Programme, em português Programa de Avaliação de Veículos Novos na Europa – que é a entidade máxima responsável por estes testes no continente europeu e a Latin NCAP, com a mesma função na América Latina.

Segundo levantamento da instituição responsável pelo controle de segurança dos veículos na América Latina, os carros vendidos nos mercados latinos estão, em relação aos mercados industrializados, 20 anos atrasados no quesito segurança, além de se encontrarem abaixo dos padrões globais. Grande parte destes índices negativos se entendem, também, pela ausência de itens como os airbags, que a partir do ano que vem passarão a ser obrigatórios em todos os veículos vendidos no mercado nacional.

March e Micra   Modelo vendido no Brasil e  na Europa são submetidos à testes de colisão idênticos (Fotos: Latin NCAP e Euro NCAP/Divulgação)

Mas estes testes intrigam os consumidores mais atentos. Alguns veículos vendidos nos mercados latinos e europeus apresentaram resultados discrepantes. É o caso do Nissan March: vendido no velho continente sob a alcunha de “Micra”, obteve quatro estrelas – de cinco possíveis – na segurança para adultos. Enquanto a versão vendida no Brasil – fabricada no México – obteve apenas a metade desta nota. Há também uma diferença enorme entre itens de segurança passiva: a versão de entrada no continente europeu é vendida com seis airbags (frontais, laterais e de cortina para o motorista e passageiro), enquanto a versão vendida em terras tupiniquins conta com apenas dois, frontais, destinados ao motorista e ao passageiro.

Preço Corolla
Infográfico mostra os preços do mesmo carro em vários países (Arte: Revista Época)

Este é apenas um dos exemplos. A questão põe em xeque a qualidade construtiva de veículos nacionalizados. É de conhecimento público que os carros brasileiros são os mais caros do mundo. Enquanto um Toyota Corolla zero quilômetro, por exemplo, nos Estados Unidos é adquirido por módicos R$ 28 mil, o mesmo modelo no Brasil não sai das lojas por menos de R$ 60 mil. Se os veículos brasileiros são tão caros, qual o motivo de não oferecerem os mesmos níveis de segurança?

O que se entende, de imediato, é um desrespeito ao consumidor brasileiro. Consumidor, este, que paga mais caro para ter um produto de qualidade inferior ao mesmo produto oferecido em mercados desenvolvidos. Já não se torna válido dizer que algumas das montadoras inovaram ao oferecer itens como os airbags e os freios ABS – Antilock Breaking System ou Sistema de frenagem com antitravamento em português – de série. Elas apenas se anteciparam às resoluções do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN) que entrarão em vigor a partir do ano que vem. O consumidor brasileiro é enganado há anos e finge que não vê.

*Douglas Lemos é acadêmico de Comunicação Social da Universidade de Brasília (UnB), e colaborador do Novidades Automotivas desde setembro de 2009

Dados | EuroNCAP e Latin NCAP

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